Beleza acessível segue distante da realidade de milhões de consumidores, segundo a criadora de conteúdo Marina Melo, 21 anos, diagnosticada com atrofia muscular espinhal (AME). A carioca virou referência ao mostrar, nas redes, como produtos e serviços de beleza excluem quem tem limitações motoras, visuais ou cognitivas.
Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que 16% da população global vive com alguma deficiência. Mesmo assim, a rotina de abrir uma máscara de cílios, girar a tampa de um batom ou acessar um lavatório de salão continua desafiadora para esse público.
Beleza acessível: influenciadora expõe barreiras da indústria
Para Marina, a indústria ergue um “grande muro”, comparável à Muralha da China, que dificulta o acesso a três pilares básicos da inclusão:
1. Produtos e embalagens adaptados: tampas rosqueáveis, frascos com relevo tátil, letras ampliadas e remoção de travas internas que exigem força excessiva. A criadora cita a cantora e empresária Selena Gomez, portadora de miastenia gravis, como exceção ao desenvolver embalagens pensadas para diferentes habilidades.
2. Serviços verdadeiramente inclusivos: rampas, espaços amplos, lavatórios ajustáveis, cadeiras com apoio variável e equipe treinada para oferecer autonomia e segurança. Sem essas adaptações, clientes com deficiência simplesmente deixam de frequentar salões.
3. Comunicação e representatividade: sites acessíveis, vídeos com audiodescrição e presença constante de pessoas com deficiência em campanhas e equipes internas de criação. “Contamos nos dedos quantos rostos como o meu aparecem nas propagandas de beleza”, lamenta Marina.
O trabalho da influenciadora começou com resenhas de maquiagem no quarto. Ao perceber que não conseguia abrir certos frascos, ela compartilhou a dificuldade online — e o vídeo viralizou. Hoje, Marina atua como consultora de acessibilidade e recusa campanhas quando o produto não pode ser usado por ela: “Não estou na internet para ganhar dinheiro; estou para chamar atenção ao tema”.
A criadora também reforça o conceito de design universal. “Quando alguém escolhe um pó compacto em vez de solto, está optando por acessibilidade”, explica. Em outras palavras, melhorias pensadas para pessoas com deficiência beneficiam o público em geral, tornando o consumo mais prático para todos.
Apesar dos avanços pontuais, Marina descreve o clima no mercado como pouco receptivo a críticas. Cada vez que aponta um problema de usabilidade, “uma porta se fecha”. Ainda assim, ela acredita que pequenas mudanças de centavos por embalagem podem trazer retorno financeiro e de imagem às empresas.
Imagem: Divulgação
A discussão vai além da estética. Para muitas pessoas, maquiagem é ferramenta de autonomia, identidade e autoestima. Ignorar essa parcela de consumidores significa, na prática, limitar o alcance de um setor que movimenta bilhões de reais anualmente. Como lembra a própria influenciadora, “acessibilidade tem que ser requisito, não favor”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a população com deficiência tende a crescer com o aumento da expectativa de vida, tornando urgente a adoção de padrões acessíveis em embalagens, pontos de venda e comunicação.
Empresas que desejam acompanhar essa tendência precisam ouvir quem enfrenta as barreiras diariamente e investir em pesquisa e desenvolvimento inclusivos. Caso contrário, continuarão perdendo relevância em um mercado que exige responsabilidade social e diversidade genuína.
Ao defender uma “caixa sem divisórias”, Marina Melo convoca marcas, profissionais e consumidores a repensar o conceito de beleza. Para ela, derrubar o muro significa permitir que qualquer pessoa, sem exceção, se reconheça diante do espelho.
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